quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

OS NANICOS BELENENSES, Elias Ribeiro Pinto



OS NANICOS BELENENSES
Elias Ribeiro Pinto


COLUNA DO DIÁRIO

Lúcio Flávio Pinto, Guilherme Augusto, Nélio Palheta, Paulo Ferreira, Raimundo Pinto, Regina Alves, Ademir Silva, Raymundo Costa, Sérgio Buarque de Gusmão, Palmério Dória, Manuel Dutra e outras ilustres figuras fizeram parte do hoje lendário "Bandeira 3"

1 Belém, diz o disse-me-disse, é a terra do já teve. Como? Do Jatene? Não, não é isso. Quer dizer, pode até ser, que a reengenharia administrativa, governamental, do Jatene tem contribuído para a Belém do já teve. Já teve Idesp, já teve IAP, já teve governo...

2 Mas o que eu ia dizer é que Belém teve imprensa alternativa nos anos de chumbo da ditadura militar. No período mais repressivo do regime, a partir de 1968 e entrando pela década seguinte, dezenas de pequenos jornais – mais de uma centena – pipocaram por todo o Brasil. E “pipocaram”, em muitos casos, transmite (não confundir com jogador “pipoqueiro”, que foge da dividida) a brevidade de vários desses periódicos, nascidos num período “quente”, mas que saltaram, foram à luta contra os milicos.

3 A lista ia de um extremo a outro, desde o escracho de um “Pasquim” até a sisudez “nanica” de “Opinião” e “Movimento”. Aliás, esses jornais ficaram conhecidos como imprensa nanica ou imprensa alternativa por se opor à complacência de parte da chamada grande imprensa, por se contrapor ao discurso oficial, por propor transformações, por combater as políticas dominantes, o modelo econômico, e por aí segue.

4 Belém também teve, ao longo da década de 1970, representantes dessa espécie. “Bandeira 3”, “Resistência” e “Nanico” marcaram época, reuniram nomes importantes, já naquela ocasião, da imprensa belenense, e lançaram outros tantos, hoje também destaques.

5 “Este é um jornal profissional feito em condições amadorísticas: sem suporte financeiro e sem uma estrutura física adequada, ele procura apenas ser um atestado das possibilidades de um jornalismo moderno numa área nova e rica. Quer entrar no cérebro de todos os que o lerem (ampliando sempre mais o universo de leitores) para esclarecer, propor e participar dos dramas diários, pessoais e gerais. Não quer ficar de braços cruzados à espera do dia mitológico que há de vir”, escreve o editor do “Bandeira 3”, Lúcio Flávio Pinto, no editorial do primeiro número do semanário, que circulou entre 15 e 22 de janeiro de 1975 (tendo antes experimentado a fase de suplemento de “A Província do Pará”).

6 O companheiro Guilherme Augusto, que pode ser encontrado, hoje mesmo, na página dois do primeiro caderno aqui do DIÁRIO, respondia pela editoria Nacional/Internacional, enquanto Raymundo Costa – que depois de trabalhar na sucursal da “Folha de S. Paulo” em Brasília, permanece na Capital Federal, mas atualmente no Valor Econômico – cuidava dos assuntos relacionados à Amazônia.

7 A editoria de Cidade ficava a cargo de Raimundo José Pinto, que já nos deixou. Walter Rodrigues, Regina Alves, Ademir Silva (grande Ademir) e Antônio Carlos Guimarães editavam, respectivamente, Especial, Artes/Espetáculos, Fotografia e Diagramação. Na Ilustração, Luiz Antonio Pinto, atual editor de arte do “Jornal Pessoal”, ainda ao lado do Lúcio, que prossegue, por sua vez, alternativo, um dos últimos da espécie, certamente seu membro mais persistente, longevo.

8 Os repórteres do “Bandeira 3”, seus carregadores de piano, eram o vigiense Nélio Palheta, o sempre resistente Paulo Roberto Ferreira, mais Fernando Lima, Francisco Guerra (o Guerra, alguém tem notícia do Guerra?) e este que vos escreve, e que naquela época se assinava Elias Pinto Jr. nos seus magros 14 anos de idade.

9 Nanico, sim, alternativo, idem, mas o “Bandeira 3” tinha, a exemplo do “New York Times”, seus correspondentes. Para cobrir a extensão de São Paulo multiplicavam-se Sérgio Buarque de Gusmão e Palmério Vasconcelos, atual Palmério Dória. No Rio, Hamilton Bandeira (irmão do Walter, que depois, ele próprio, seria colaborador do “Bandeira 3”, que não era seu terceiro irmão), o preto-que-ri, o pagão Ademir Braz na cosmopolita Marabá, Elson Martins (então nome famoso do circuito jornalístico alternativo) em Macapá, Manuel Dutra em Santarém e Manoel Lima em Manaus.

10 O “Bandeira 3” se prolongou por milagrosos sete números para depois se transformar em lenda, a que ora aqui damos passagem.

https://www.facebook.com/elias.ribeiropinto/posts/10203767603332198

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