sábado, 9 de junho de 2012

Salão dos românticos, Carlos Heitor Cony. Crônica publicada no jornal Folha de São Paulo, em 23 de outubro de 2001


Salão dos românticos, Carlos Heitor Cony
Crônica publicada no jornal Folha de São Paulo, em 23 de outubro de 2001.


Salão dos românticos

    Na Academia Brasileira de Letras há um salão muito bonito mas um pouco sinistro. É o Salão dos Poetas Românticos, com bustos dos nossos principais românticos na poesia: Castro Alves, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Álvares de Azevedo.
    Os modernistas de 22, e antes deles os parnasianos, decidiram avacalhar com essa turma de jovens, que trouxe o Brasil para dentro de nossa literatura. Foram os românticos, na prosa e no verso, que colocaram em nossas letras as palmeiras, os índios, as praias selvagens, o sabiá, as borboletas de asas azuis, a juriti - o cheiro e o gosto de nossa gente.
    Não fosse o romantismo, ficaríamos atrelados ao classicismo das arcádias, à pomposidade do verso burilado que tem o equivalente cinematográfico nos efeitos especiais. Sem falar nos poemas-piadas, a partir de 1922, tidos como vanguarda da vanguarda.
 Foram todos jovens: Casimiro morreu com 21 anos, Álvares de Azevedo com 22, Castro Alves com 24, Fagundes Varela com 34. O mais velho de todos, Gonçalves Dias, mal chegara aos 40 anos.
    O Salão dos Poetas Românticos é também sinistro, pois é de lá que sai o enterro dos imortais, que morrem como todo mundo, entre outras razões, porque a maioria deles não tem onde cair morto. (A piada é de Olavo Bilac).
    José de Alencar também devia estar ali. Mas está perto, como perto está o busto de Euclides da Cunha. Foram pioneiros na valorização dos temas brasileiros, bem antes de 1922.
 Com exceção de Euclides, que foi acadêmico em vida, todos são anteriores à fundação da Academia, estão imortalizados em bustos. São patronos de cadeiras em que sentaram Machado de Assis, Coelho Neto, Bilac, Guimarães Roa, Darcy Ribeiro, Barbosa Lima Sobrinho, Jorge Amado e outros. Todos brasileiros. E de letras.

Carlos Heitor Cony
Biografia
Carlos Heitor Cony nasceu em 1926 no Rio de Janeiro. Trabalhou em jornais como redator, copidesque e colunista.
Escreveu crônicas, contos, ensaios, reportagens, adaptações, livros infanto-juvenis etc. Dentre suas obras estão: O Ventre , O ato e o fato, Posto Seis e Quase memória .
Recebeu vários prêmios e no ano 2000 foi eleito pela Academia Brasileira de Letras.
Carlos Heitor Cony é muito conhecido pelas crônicas que escreve. Na crônica abaixo ele fala do Salão dos Poetas Românticos da Academia Brasileira de Letras.


Carlos Heitor Cony. Agência Folha. Publicada no jornal Folha de São Paulo em 23/10/2001 .
www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/index.htm

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